domingo, 8 de junho de 2008

Podres Poderes

Passeando pela internet, acabei achando um documentário feito no Ceará sobre a transposição do Rio São Francisco. Ele é dividido em 5 partes, mas eu acho que vale muito a pena assistir até o fim.

Transposição das Águas do Rio São Francisco

Parte 1



Parte 2



Parte 3



Parte 4



Parte 5




Deixem-me só abrir um pequeno parêntese. Independentemente da posição política que vocês tenham, lembrem-se que acima de questões políticas, existem seres humanos.
Digo isso porque, um belo dia, estava eu assistindo um documentário, oferecido pelo Centro Acadêmico do meu curso, que tratava da ascensão do Lula ao poder. Bom, o vídeo desenvolvia a história a partir dos depoimentos dos metalúrgicos de São Bernardo e dos nordestinos que saíram do, dos que ficaram no e dos que retornaram ao interior do Nordeste.
Acabado o documentário – eu chorando, diga-se de passagem –, inicia-se o debate. "O Lula isso, o Lula aquilo e aquilo outro". Ora, isso é uma mania boba da gente de concentrar todas as culpas do mundo em uma única pessoa. Ou herói, ou vilão. Mas, na verdade, acredito eu, que as situações se formam de toda a sociedade. A esperança de um país melhor, com igualdade, lazer, educação, saúde, etc e etc, não será um Lula que trará. Nem um Lula, nem ninguém. Terá que vir da gente. Do nosso "olhar o próximo". Fala-se de social, da sociedade, do socialismo, sem olhar os indivíduos que os compõem. Somos uma coletividade, mas também somos seres humanos. Somos únicos. Cada um de nós carrega esperanças, sonhos mesmo.
Por mais que a Dona Maria queira um Lula no poder para exprimir sua vontade ou por qualquer outro motivo, ela o quer porque tem um sonho em particular, como o de ter sua casinha própria, para poder morar com os seus filhos, sem que estes precisem ir pra São Paulo tentar ganhar a vida como motoboy ou outro emprego qualquer.
O que eu quero dizer e não sei se estou conseguindo, é que eu não fico triste por todos, pelo social, mas fico triste, na verdade, por cada um deles, individualmente.
E acho que, se os nossos estudantes revolucionários fizessem isso, deixariam talvez de utilizar seres humanos como meros objetos de debate.
Enfim, mas isso é só a minha opinião.

Achei um outro vídeo. Dessa vez, um homem nadando no nosso Riacho Salgadinho. Detalhe: está classificado na categoria "Humor".





Enquanto os homens exercem seus podres poderes
Motos e fuscas avançam os sinais vermelhos
E perdem os verdes
Somos uns boçais

Queria querer gritar setecentas mil vezes
Como são lindos, como são lindos os burgueses
E os japoneses
Mas tudo é muito mais

Será que nunca faremos senão confirmar
A incompetência da América católica
Que sempre precisará de ridículos tiranos?

Será, será que será que será que será
Será que essa minha estúpida retórica
Terá que soar, terá que se ouvir
Por mais zil anos?

Enquanto os homens exercem seus podres poderes
Índios e padres e bichas, negros e mulheres
E adolescentes fazem o carnaval

Queria querer cantar afinado com eles
Silenciar em respeito ao seu transe, num êxtase
Ser indecente
Mas tudo é muito mau

Ou então cada paisano e cada capataz
Com sua burrice fará jorrar sangue demais
Nos pantanais, nas cidades, caatingas
E nos Gerais?

Será que apenas os hermetismos pascoais
Os tons, os mil tons, seus sons e seus dons geniais
Nos salvam, nos salvarão dessas trevas
E nada mais?

Enquanto os homens exercem seus podres poderes
Morrer e matar de fome, de raiva e de sede
São tantas vezes gestos naturais

Eu quero aproximar o meu cantar vagabundo
Daqueles que velam pela alegria do mundo
Indo mais fundo
Tins e bens e tais

(Caetano Veloso)

8 comentários:

Anônimo disse...

Estamos precisando mesmo de mais discussões. E não de discussões vazias, sobre o caos no mundo, mas sobre o caos no ser, no ser humano, principalmente.
Tds essas questões de ter ao invés de ser... Acho que hj estamos na era do parecer ter...
O que quero dizer, finalmente, é que gostei mto do seu texto, precisamos aprender a olhar as pessoas como seres, não como coisas. Adorei - (e deixa eu parar se n vou começar a falar dos animais e vai virar papo de vegetariano.. rsrs).

Leleco disse...

Só pra constar, tá gente: a única coisa que desejo mesmo é que passemos desta fase de lutas “virtuais” e passemos às lutas práticas. Não sei se é pessimismo, se é idealismo ou se devo chamar de pensamento de elite, a única coisa que desejo muito e tento praticar muito é plantar dentro do meu apê a consciência de que as plantinhas da minha mãe ajudam a todos com sua fotossíntese. E que, se ao menos alguns de nós cultivássemos plantas dentro dos nossos quartos, quem sabe, poderíamos também praticar um pouquinho da nossa função de “ser social”. Como falei lá no começo, eu clico todos os dias. Planto "virtualmente" nossos jacarandás e pés de acerola. Mas e nas nossas ruas cheias de lama, o que fazemos? E na transposição do Chico? Quem já foi lá conhecer de perto a realidade daquele povo? Por sinal, show de bola esse vídeo, André, eu já o conhecia. Mas quantos de nós, como eu mesmo, criticamos os movimentos quando eles fecham as ruas ou invadem os serviços públicos porque não tem o que comer?

E o que fazer? Eu não sei, nem Marx nem Lênin me deram as respostas que busco... Nem o PSDB, nem o Paulo Coelho, muito menos o Jabor... o Radiohead, bixinho, me faz pensar em me jogar do sétimo andar, mas sempre lembro que, além de ser outra banda que canta isso, meu prédio só tem cinco...

E isso tudo, apesar de eu ser burguês, “moreninho” e/ou “afro-descendente”, “livre” e “elite universitária-desempregada” e “pensante que penso”, ando muito triste.

Leleco disse...

Continuando, Triste estou pela impotência do coletivo perante o individual, triste pelas nossas ações refutadas pelos nossos representantes, principalmente, triste porque tantos e tantos que poderiam estar nas frentes de luta estão preocupadas com o seu din din de cada dia. Ainda mais, porque ninguém sabe mais como salvar o rio na prática. Até porque, não dá pra “ocupar” o rio como ocupamos REItorias em nome de nossos direitos...

E nós, será que sabemos o que fazer? Pessoalmente, fico mais uma vez triste quando dependemos de “salve o verde-ponto-com” pra discutirmos e lutarmos contra o desmatamento da mata atlântica e da floresta amazônica. Não sei se é pessimismo, mais uma vez, perdoem-me se o for. O “salvo o velho chico-ponto-com” anda pelo país, com a Letícia Sabatella de tira colo. Ela por sinal, estará no encontro nacional de estudantes de nutrição fazendo a luta pelo Rio. Louvável. O “salve a amazônia” tem a atriz da novela das oito (além de toda a Globo, se alguém acredita) como garota propaganda.

Só não esperarei inventarem o “salve o brasil-ponto-com” para começar a plantar sementes de esperança para este pedaço de terra. Eu continuo fazendo, discutindo, tomando muita porrada (verbal e portas na cara), indo nos interiores atrás de quem realmente trabalha, e tentando aprender com eles como se sobrevive e como se luta todos os dias contra nós mesmos, seres humanos "pensantes".

Triste também, porque cada vez mais “pessoas” parecem tão impessoais, tão des-humanas... Na Enfermagem, por exemplo, há tempos lutam por uma profissão mais “humanizada”... ué, mas nós não somos humanos? Somos marcianos é?

Leleco disse...

É questão de ponto de vista, de visão de mundo, de ideologia. Qual é a minha? Não sei. Isto não é importante. O que importa mesmo é fazer, é se indignar, porém, não estagnar no processo cotidiano histórico. Que não se torne APENAS a minha opinião, mas que seja a MINHA opinião e, lá na frente, que seja a NOSSA Ação.

Como no maio de 68: "As barricadas fecham as ruas, porém, abrem caminhos".

“Sejam Solidários e não Solitários”

"Viva o Velho Chico!!"

Xêros nos suvacos cheios de matas-atlânticas querendo ser devastadas pelo Gilette Tripla Ação do Kaká.

Leleco disse...

Gente, perdoem-me pelo excesso de letras, mas precisava tirar algumas nuvens dos meus pensamentos e algumas dúvidas do que tinha colocado lá no outro post. Era algo que iria até postar, mas servia tanto pra uma colocação qnt pra outra... bem, tá aí...

xêros renovados nas suvaqueiras xêrosas...

André disse...

Concordo com a Jackie. Precisamos sim de mais discussões.
Léo, só pra deixar claro, mas imagino que você já saiba, em momento algum a idéia foi criticar você. Na verdade, toda e qualquer crítica que faço é para mim mesmo. Eu é que faço parte da "elite intelectual", sacou? Lógico, não só eu. Você também e qualquer um que tenha o privilégio de estar cursando o ensino superior (na UFAL ou não).
Não é só você que fica triste por não saber o que fazer. Pense bem... Se eu soubesse, não escreveria um post, mas agiria. Eu também fico triste com tudo isso. Mas cada vez mais acredito que é a partir de nossa conduta individual que consiguiremos mudar o social. Acho que a NOSSA ação, não precisa ser todo mundo de uma vez, no amontoado. Mas cada um ao seu tempo, na sua oportunidade.
E olhe... Não pedi pra você plantar as árvores só virtualmente. Mas se é um projeto que pode (existe a possibilidade de) ajudar, então, da nossa parte, nós contribuímos.
É meio "Poliana" isso, mas eu quero acreditar mais nas pessoas. Ou melhor, eu preciso acreditar.
Não acho que precisamos ir "lá", "conhecer a realidade do nosso povo". Lembro que na 8ª Série, fizeram uma excursão para conhecer a favela do Reginaldo. Eu não fui. Mas quem foi, não voltou sensibilizado. Voltaram foi falando que o povo fedia, que se vestiam mal, que blá-blá-blá... E esse pessoal aí, não faz parte do povo? Faz, sim senhor. E só porque têm dinheiro não precisam de ajuda? Na minha opinião, também precisam.
Alguém pode dizer: "Ah, mas eles não passam fome!"
É verdade, não passam. Mas, sinceramente, não acho que sejam felizes.
Posso estar equivocado, mas não é esse o objetivo da vida? Ser feliz?
Isso não é ser burguês, Léo. Isso é viver. Não precisaria de nenhuma ciência, nenhuma aula pra saber disso...
O que é que todo mundo espera da vida? Qualquer que seja a resposta, no final será ser feliz, ter paz. É o começo, o caminho e o destino que todos nós deveríamos ter.

Hum... Sorte que isso não é uma Redação de Vestibular, porque eu fugi do tema umas 500 vezes.

Em suma, meus amigos são meus amigos porque os admiro. Pode ser que eu tenha dado uma alfinetada aqui ou outra ali, mas não era só pra você... Tu tá mesmo se achando muito importante, né garoto?!? =P

Beijão,
Adoro você.
Mas prefiro você alegre. Como nos nossos tempos de CEFET. =)

P.S.: Vide texto sobre os benefícios de se fazer uma academia... =P

André disse...

Ah...
E, no fundo, todos nós falamos e queremos a mesma coisa, pessoal. Só que em línguas diferentes. =)

Leleco disse...

bom andré... não respondi pq tive a honra de ser criticado pelo teu texto, sei q não tive essa honraria substancial de vida. até, pq, pra isso, vc iria logo ligar pra mim e fazer por telefone... seria mais emocionante, né maromba? sei tb q a intenção do teu texto foi sim criticar todas as nossas atitudes (e as faltas de ação) que andamos tendo por aí. Inclusive, não ter opção de classe - mas esse é um outro debate. E você sabe também que sempre qnd taxo vc e/ou fainho e/ou eu mesmo de "burguês" são por milhares de motivos (apesar de alguns estarem incluídos de forma sarcástica e viril.. haHAhahA - PS: risada aterrorizadora). Só tive vontade mesmo de esclarecer alguns pontos que penso sobre isso. e outros, farei pessoalmente. tá?

Ah! e aprendi com o blog da Jackie que eu sou teu amigo mesmo pq vc é branquelo azedo, e eu como "moreninho-cotista", precisava de um par diferente para contradizer oq eu digo e oq penso... Na verdade , é mentira, eu não sei pq eu gosto de você não, isso é um problema na minha vida. mentira também, não é um problema, na verdade, tô nem aí. Não você, mas o "eu gostar de você". chique né?

Continuo triste. É bom ficar deprê. E escutar Radiohead. Xêro no suvaco burguês...