Ai São João, Xangô Menino... Época muito propícia para se viver no Nordeste. Fogueiras rua sim e outra também. Mas não sei dizer... alguma coisa mudou. Época de São João me dá uma certa saudade do que não vivi (como diz alguma música...). Se por um lado, eu gosto da idéia da festa, por outro, acho que a festa não está sendo bem celebrada.
Culpa de quem? Do Luiz Gonzaga, é claro! Vida musical é isso. Por causa das músicas dele, não me acostumo com as músicas que são tocadas hoje... "Como assim forró elétrico?" Sem condições de dançar "Chupa que é de uva" ou "Senta que é de menta"... Aliás, acho que ninguém, nem em seu juízo perfeito, nem alcoolizado, deveria tentar. Pior do que isso são as versões "forrozísticas" de músicas estrangeiras. Aí sim... Nem uma produção original se deram ao trabalho de fazer.
No dia de São João, fui assistir as quadrilhas no Jaraguá. Achei muito bonito, mas me pareceu pouco divertido para quem estava dançando. Algo parecido com o que ocorre com as Escolas de Samba do Rio de Janeiro. A coisa começa como uma brincadeira, depois vira competição, até virar trabalho... No fim, a graça não é mais dançar quadrilha, mas ganhar de alguém.
Pra dizer a verdade, não sei se um dia a quadrilha foi como eu a estou idealizando... Percebo que uma parcela da minha geração (a dita “inlectualizada”) vive a sonhar com um tempo ido e concebido. Seja o tempo da tropicália, ou o período do samba, ou da revolução beatnik, ou até mesmo da revolução russa. Acho que existe uma certa recusa em viver o dia de hoje como ele é.
Não sei. Não estou com muita paciência para ficar pensando nisso.
Ou melhor...
Hoje não estou com muita paciência para pensar.
Vamos viver no Nordeste, Anarina.
Deixarei aqui meus amigos, meus livros, minhas riquezas, minha vergonha.
Deixarás aqui tua filha, tua avó, teu marido, teu amante.
Aqui faz muito calor.
No Nordeste faz calor também.
Mas lá tem brisa:
Vamos viver de brisa, Anarina.
(Manuel Bandeira)