segunda-feira, 27 de outubro de 2008



Se não há nada para ser dito,
então não diga nada.



domingo, 12 de outubro de 2008

Alegria, Alegria

Salvador Dali, O Livro-Árvore
(sem começo)


Justamente, os investidores estão assustados, tadinhos... Analisem que dúvida cruel: "Onde eu invisto o meu bilhão de dólares?" Ai, ai, ai. Dona Maria, lavadeira na capital alagoana, é que é uma alienada. Imaginem só! O mundo em crise e ela com seus probleminhas sem valor (o de praxe: o marido bêbado, vagabundo e com uma amante, o seu filho de 18 que passou a se drogar e a sua filha de 16 anos que está grávida de sabe lá quem). Ora, Dona Maria, faça-me o favor! O mundo está em crise! E lá vem você me choramingar bobagens...


(sem meio)


Pois é. Dona Maria vai procurar ajuda na Igreja Universal do Reino de Deus. Boa idéia, boa idéia. Vamos mandar os investidores para lá também. Quem sabe, né? (Ou quem sabe é de lá que saem os investidores...)


(sem fim)


Sem pé, nem cabeça. Como a vida, afinal. E, no entanto, numa passagem bíblica, Jesus diz: "Alegria, Alegria".


Caminhando contra o vento
Sem lenço, sem documento
No sol de quase dezembro
Eu vou

O sol se reparte em crimes
Espaçonaves, guerrilhas
Em Cardinales bonitas
Eu vou

Em caras de presidentes
Em grandes beijos de amor
Em dentes, pernas, bandeiras
Bomba e Brigitte Bardot

O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia?
Eu vou

Por entre fotos e nomes
Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores vãos
Eu vou

Por que não? Por que não?
Ela pensa em casamento
E eu nunca mais fui à escola
Sem lenço, sem documento
Eu vou

Eu tomo uma coca-cola
Ela pensa em casamento
E uma canção me consola
Eu vou

Por entre fotos e nomes
Sem livros e sem fuzil
Sem fome, sem telefone
No coração do Brasil

Ela nem sabe até pensei
Em cantar na televisão
O sol é tão bonito
Eu vou

Sem lenço sem documento
Nada no bolso ou nas mãos
Eu quero seguir vivendo amor
Eu vou

Por que não? Por que não?

(Caetano Veloso)