Ele estava ali diante do espelho.
Diante do espelho? E agora? Fazendo o quê? Hum... Não pode ser uma coisa muito óbvia. Afinal, é um conto pós-pós-moderno. Ou talvez justamente por isso, deva ser uma coisa óbvia? Que confuso...
Ele estava ali diante do espelho. E notou que o espelho estava diante dele.
Será que isso passa por profundo? Não quer dizer absolutamente nada, mas pode ser que alguém acabe vislumbrando uma genialidade... Vamos lá.
Ele estava ali diante do espelho. E notou que o espelho estava diante dele. Espesso espelho. Não refletia o que gostaria de ver, mas o avesso. O avesso do nada que, por paradoxal constituição, também é nada. Seu avesso e seu anverso. Verso de ilusão coletiva que desmorona acintes. Finórios saberes do espesso espelho. Por que não refletir a sua imagem, mas o avesso de tudo? Sim, pois de tudo o avesso é o nada. E na espessura do espelho se viam os seus avessos. E os avessos de seus supostos avessos. De que adiantava tudo isso? Ele ainda estava ali. Na frente do espelho. E se saísse? E se fosse para outro lugar? De que adianta? A espessura refletida o acompanharia. Não era a sua imagem, mas era o que era. O espelho não mente.
Ele parou. Parou. E um dromedário morreu na Guatemala.
Certo. Um conto pós-pós-moderno. Sucesso, aí vou eu!