Caqui com Limão
sábado, 23 de outubro de 2010
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
Cem Ordem, Cem Progreço
Muitas escritas começam de um papel em branco. Se o caro leitor for implicante, pode me questionar: e que papel não está em branco antes de se escrever? Mas não é isto que eu quero dizer. Quero dizer que o branco do papel ou o cremezinho do papel reciclado nesses dias tão pseudoecológicos podem inspirar. Inspirar o quê? Inspirar para quê?
Uma vez me perguntaram se eu gostaria de escrever um livro.
Uma vez me perguntaram se eu gostaria de escrever um livro.
- Não. A princípio, não.
- Sério? Você não gostaria de escrever um livro?
Ora, a princípio não. O que escrever se, no momento, eu não tenho nada para escrever? Convenhamos, já existem livros suficientes que não dizem nada. Nada, são desperdício puro. Pura utilização inútil de papel. Papel que nos tempos ainda pseudoecológicos dificilmente são ou serão reciclado. Então, não. A princípio, não.
Já pensaram que, nem se gastássemos a nossa existência inteira lendo, conseguiríamos ler tudo o que foi escrito? Desse tudo, nem o tudo que nos interessa. E deste, nem o tudo que nos seria importante. Não leríamos, nem se quiséssemos. Mas e quem iria querer?
Época de campanha política, a tal da febre terçã com interstícios maiores. Um candidato diz: “precisamos colocar duas professoras no ensino fundamental para alfabetizar nossos jovens”. De que adianta? Coloquem duas, três, seis, doze. Coloquem quantas quiserem. Se nenhuma delas tiver preparo, uma boa capacitação, será o mesmo que não ter professora. Nenhuma professora, entenderam? Qualidade não é quantidade, já ouviram isso? Nem o vice é o versa.
- Nome de novela com a letra i?
- Iscrito nas Istrelas.
Para onde vai este país? Deveria ir para a escola.
[O autor deste texto se inclui no direito de ir/voltar para a escola. Aulas de português seriam muito gratificantes]
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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
terça-feira, 28 de julho de 2009
quinta-feira, 23 de julho de 2009
A TV que não vê
Estava assistindo o "Jornal Hoje" da Rede Globo, quando escuto, logo na abertura, a chamada: "Pancadaria em sessão do congresso sul-coreano. Deputados partiram para a briga depois que a bancada governista conseguiu aprovar um projeto facilitando a compra de emissoras de tevê por jornais".
Já fiquei de orelha em pé. Para quem ainda não sabe, meu TCC será sobre o serviço público de televisão e a possibilidade de controle da sua programação. Notícia relacionada com o meu tema, fiquei esperando a matéria completa. Depois de muitas dicas sobre a gripe suína (Já morreram 23 e estamos em pânico. Sorte a nossa que eles não contabilizam quantas pessoas morrem de fome no Brasil... Ia ser um pandemônio), depois do eclipse solar na Ásia (o mais longo de todos: 6 minutos! Eclipse igual só daqui a 120 anos, pasmem!), depois de assistir uma animação comercial com bebês dançando sobre patins (que fofo, hein?), veio enfim a notícia que eu esperava dentro do bloco "o mundo em um minuto" (como assim? Um minuto pra tudo?). E saiu assim:
"Terminou em pancadaria uma sessão do congresso sul-coreano. Deputados partiram para a briga depois que a bancada governista conseguiu aprovar um projeto facilitando a compra de emissoras de tevê por jornais. Pelo menos um dos parlamentares foi parar no hospital. Até as mulheres tentaram resolver a questão à força".
Enquanto o repórter narrava este texto longo e elucidativo, cenas da pancadaria.
Depois, seguiu-se com a notícia de um incêndio em barcos de luxo e do aniversário de um leão (!).
Quem quiser, pode assistir no site, o link do Jornal Hoje com "O mundo em um minuto" é:
Já fiquei de orelha em pé. Para quem ainda não sabe, meu TCC será sobre o serviço público de televisão e a possibilidade de controle da sua programação. Notícia relacionada com o meu tema, fiquei esperando a matéria completa. Depois de muitas dicas sobre a gripe suína (Já morreram 23 e estamos em pânico. Sorte a nossa que eles não contabilizam quantas pessoas morrem de fome no Brasil... Ia ser um pandemônio), depois do eclipse solar na Ásia (o mais longo de todos: 6 minutos! Eclipse igual só daqui a 120 anos, pasmem!), depois de assistir uma animação comercial com bebês dançando sobre patins (que fofo, hein?), veio enfim a notícia que eu esperava dentro do bloco "o mundo em um minuto" (como assim? Um minuto pra tudo?). E saiu assim:
"Terminou em pancadaria uma sessão do congresso sul-coreano. Deputados partiram para a briga depois que a bancada governista conseguiu aprovar um projeto facilitando a compra de emissoras de tevê por jornais. Pelo menos um dos parlamentares foi parar no hospital. Até as mulheres tentaram resolver a questão à força".
Enquanto o repórter narrava este texto longo e elucidativo, cenas da pancadaria.
Depois, seguiu-se com a notícia de um incêndio em barcos de luxo e do aniversário de um leão (!).
Quem quiser, pode assistir no site, o link do Jornal Hoje com "O mundo em um minuto" é:
Impressionante... Para facilitar a vida do homem moderno, a chamada da matéria tem o mesmo conteúdo da matéria. Realmente... Para que detalhes do tipo: Qual o problema (inocência) dos jornais comprarem as emissoras de TV? Se é que se tratava só disso mesmo.
Bom, quem se fiar só na Rede Globo, já viu, né? Explicaria a questão pelo fato de todos os países asiáticos serem praticantes de artes marciais e não perderem a chance de usar seus conhecimentos... Quem sabe será tema da próxima novela da Glória Perez... De “Are baba!” para “Iiiiiáááááááá!”. Muito instrutivo, realmente.
Bom, mas como eu fiquei curioso (assim, sem motivo) fui procurar na internet sobre a tal confusão. Se vocês se derem ao trabalho de fazer uma pesquisa no Google, a maioria dos sites dirá mais ou menos o que o Jornal Hoje disse. Alguns com vídeos no YouTube com as cenas da pancadaria.
No site do G1, também da Globo, é que foi de arrepiar. A cobertura acrescentou um detalhe: “Leia também: Parlamentares já haviam saído no tapa em dezembro de 2007”. Não há com o que se preocupar então. Esse povo entra mesmo no tapa por qualquer coisa. A apresentadora do vídeo diz praticamente isso, aí vai o link:
Que coisa... Até parece que a Globo tem medo de informações que cheirem à discussão sobre monopólio dos meios de comunicação... Até parece.
Bom, mas alguém teria que explicar o que aconteceu. E as melhores coberturas vieram dos sites que receberam a informação pela Agência EFE (para quem não sabe, hoje em dia raramente recebemos as notícias diretamente). Foram os sites do “Último Segundo” e do “Terra Notícias”, que contêm basicamente a mesma coisa:
Bom, mas alguém teria que explicar o que aconteceu. E as melhores coberturas vieram dos sites que receberam a informação pela Agência EFE (para quem não sabe, hoje em dia raramente recebemos as notícias diretamente). Foram os sites do “Último Segundo” e do “Terra Notícias”, que contêm basicamente a mesma coisa:
Mas para quem quiser só ver a pancadaria, tem o vídeo no YouTube:
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sexta-feira, 15 de maio de 2009
Poema Em Linha Recta
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cómico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado,
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e erróneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
(Álvaro de Campos)
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cómico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado,
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e erróneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
(Álvaro de Campos)
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